HAL
O Jornal de 2001
N° 3
A Odisséia
Lacaniana
Colóquio Internacional: Lacan no Século
11,12,13 e 14 de abril de 2001
sob a égide de:
Internacional dos Fóruns do Campo Lacaniano
Associação Fóruns do Campo Lacaniano
Organização:
Formações Clínicas do Campo Lacaniano
Editora: Clara Inem
Colaboradores Hal no 3: Antonio Quinet, Marcus Sodré, Rosane Melo e Vera Pollo.
Colaboradores Estrangeiros: Bernard Nominé, Lia Shenfield e Leonardo Rodrigues.
Neste Número:
- Entrevista com Bernard Nominé: Lacan na América do Sul; A Criança como objeto de gozo; Não há Escola sem Passe.
- Atividades no Rio antes de Odisséia.
- Sites para você programar seus passeios turísticos.
- Baile de Aleluia: Traga sua Fantasia
Atravessando o Oceano: entrevista com Bernard Nominé
Hal- Em 13 de abril de 2001 estará acontecendo no Rio de Janeiro o Colóquio Internacional: Lacan no Século ou a Odisséia lacaniana, um grande debate sobre a contribuição do ensino de Lacan no século XX e suas conseqüências para século XXI. Ao mesmo tempo, estaremos comemorando também nesse dia o seu centenário de nascimento. Como você ce o fato de um evento deste porte acontecer em um país da América do Sul, mais precisamente no Brasil?
B.N- Que o simpósio que celebra o centenário de Lacan e que trata da influência de seu ensino no século tenha lugar no Brasil, eis uma idéia que poderá parecer barroca para alguns aqui na França. Quando Antonio Quinet lançou a idéia, nós estávamos no Rio com Colette Soler para um primeiro congresso, em julho de 99. Pessoalmente, ela não me pareceu de modo algum uma idéia barroca. Descobríamos nessa ocasião o enorme esforço que nossos colegas brasileiros haviam feito para pôr novamente de pé, depois da cisão, uma comunidade de trabalho com seus laços associativos, suas publicações e seu instituto de formação. Nesse ponto, o Brasil estava mais adiantado do que nós e totalmente à altura de organizar essa grande reunião. Agora, para além das considerações técnicas, vejo nessa escolha da América do Sul o signo do acolhimento que este continente reservou para o ensino de Lacan. A odisséia lacaniana partiu de Paris, mas foi amplamente exportada para o mundo latino americano. Foi em Caracas que Lacan deu uma das últimas aulas de seu seminário e ele destacava ali, na abertura deste congresso, que a presença daquele público numeroso que viera escutá-lo era o sinal de que ele tinha conseguido transmitir alguma coisa. Lacan se congratulava pela admiração entusiástica do público sul americano com seu ensino, Freud pensava ter levado a peste aos americanos; o contraste é marcante, poderíamos refletir sobre isso.
Hal-Durante o Colóquio Internacional estará sendo lançado o número 1 de Marraio, revista dedicada à psicanálise com crianças e adolescentes. A revista contará com um trabalho seu , intitulado "A Adolescência ou a queda do anjo", em que você se refere à idealização cada vez maior do jovem numa sociedade em que a velhice se torna cada vez mais longa. Ao abordar a opção que está em jogo em cada comunidade, você esclarece que ou o adolescente é objeto do investimento narcísico dos pais, o que é sem dúvida o melhor dos casos, ou ele é colocado a serviço do gozo do Outro, como o são os adolescentes das classes mais pobres do assim chamado Terceiro mundo, onde se verificam os fenômenos de prostituição de meninas e de armamento de meninos. Que conseqüências isso lhe parece ter para a subjetividade contemporânea?
B.NCada vez que eu reflito sobre os problemas da infância, seu estatuto em nossa civilização, impressiona-me o fato de que o que é verdadeiro para uma determinada população, não o seja para outra. A adolescência se eterniza em nossos meios favorecidos, ao passo que nos meios desfavorecidos e em determinados países como no Brasil, especificamente, a criança é considerada impunemente como um objeto de gozo. A era mundial só faz acentuar o fenômeno, mas ela também nos revela que estas duas vertentes do estatuto da criança, aparentemente opostas, são como as duas faces de uma mesma medalha. A imagem narcísica superinvestida nos meios favorecidos esconde a verdade daquilo que a criança representa para o adulto, mas isso aparece sem disfarce nos bairros pobres de nosso planeta. Dito isto, já que vocês me colocam a pergunta sobre a subjetividade contemporânea, nem todos os problemas podem ser tratados da mesma forma em todos os lugares. Como uma criança das ruas de Medelim, Caracas, Manilha ou Rio de Janeiro poderia ter acesso à psicanálise, se ela está aprisionada nesta encarnação de objeto do gozo do Outro de que ela própria também goza? Só se tem acesso à psicanálise a partir de uma posição de sujeito. Há sem dúvida coisas mais importantes a serem feitas, em um primeiro tempo, que esperar em vão que estas crianças cheguem nos consultórios. A psicanálise tem o que dizer na sociedade, para dar a escutar o que ela aprende com sua prática. E o alcance desse testemunho deve ir além da hipocrisia que consiste em editar os direitos da criança. Quando se edita os direitos da criança, são sempre as crianças do vizinho que são visadas. Ao mesmo tempo, nossas sociedades ditas civilizadas, que pretendem impor sua visão da infância ao planeta inteiro, fariam melhor se indagassem de si mesmas o que dizem aqueles que disso fazem um apelo ao direito de ter filhos. Será que não se vê, neste desvio manifesto que decorre dos avanços da ciência da fecundação, que a criança é tratada como um bem de consumo?
Hal-O Passe é, antes de tudo, da ordem da experiência. Você, que já participou da experiência do passe, poderia nos dizer algumas palavras sobre as articulações entre o dispositivo do passe, o ensino e a escola de Lacan?
B.N-Fui nomeado passador há algum tempo, depois isso me levou a fazer o passe eu mesmo. Não fui nomeado, mas isso não tem importância, pois guardei desta experiência memorável a lembrança de um ponto de vista insubstituível sobre o que havia sido minha vida até então e sobre o que havia se passado em minha análise. Além da importância deste dispositivo para uma escola de psicanálise, o passe é, antes de mais nada, uma experiência pessoal que eu desejaria para todos aqueles que se engajaram em uma análise. É, antes de tudo, para si próprio que se faz o passe e não para responder a exigências institucionais. Se nós estamos em vias de refletir sobre o lugar do passe em nosso projeto de Escola, é porque a experiência passada do "empuxo ao passe" não nos pareceu judiciosa. Para além da experiência pessoal, o dispositivo do passe é insubstituível para uma escola de psicanálise. Ele é a única solução que Lacan pôde encontrar para resolver a questão do que pode garantir que uma escola seja verdadeiramente uma escola para a psicanálise. Sem o passe, uma escola bem pode ser a Escola de tal ou qual mestre, ao modo respeitável do mestre antigo, mas, para uma escola de psicanálise, a história do movimento psicanalítico nos mostrou que a figura do mestre faz obstáculo ao que há para se transmitir em psicanálise. A aposta do passe na Escola de Lacan é fazer passar ao público alguma coisa da experiência íntima daquele que passou da posição de analisante à de analista. Neste momento de passe é o estatuto do sujeito suposto saber que está em questão. Ora, esta experiência em que é entreapercebida a miragem deste sujeito suposto saber é decisiva para aquele que, em seguida, aceitará ser o suporte desta ilusão para um outro. O passe e a experiência que nele se acumula são importantes para a comunidade analítica, na medida em que ele promove um saber inédito e de tal forma que não seja possível servir-se dele para fins de poder. Ele deveria constituir uma muralha contra os efeitos de sugestão que fazem o lote de todo grupo ordinariamente constituído.
Informações
Atividades Precoloquiais
Às vésperas da Odisséia lacaniana teremos algumas atividades com colegas estrangeiros que já se encontrarão no Rio de janeiro.
- dia 9 de abril às 11 horas: Conferência de Pierre Bruno sobre Antonin Artaud
- dia 9 de abril às 20:30 horas: Conferência de Colette Soler
- dia 10 de abril às 10 horas: Conferência de Marc Strauss sobre Psicanálise com crianças
Visite os sites e programe seus passeios pela cidade maravilhosa!
Baile de Aleluia
No sábado dia 14 de abril à noite haverá uma festa de confraternização. Esse sábado é o sábado de Aleluia, véspera de domingo de Páscoa, comemorado tradicionalmente no Brasil com um baile de carnaval chamado Baile de Aleluia, no qual se realiza a "malhação de Judas".Realizaremos pois essa brincadeira carnavalesca para a qual a comissão organizadora convida a todos os participantes virem fantasiados. (Pede-se àqueles que forem desfilar em Escola de Samba ou Blocos carnavalescos que contribuam com adereços para a ambientação)
INSCREVA-SE! PARTICIPE! ENVIE SEU TEXTO PARA HAL!
Informações: JOBE - tel: 55 21 265 5060 - Email: jobe@unisys.com.br
Hospedagem: RENTAMAR TURISMO: tel 55 21 235 7724 - Email :rentamar@rentamar.com.br
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ou qualquer outro tipo de informação, escreva a brasil@psicomundo.com