Vol IV n° 1 Março de 2001
Sumário da Revista
Editorial
Artigos
Vera Lopes Besset
Quem tem medo da angústia?
Vera Lopes Besset
Sobre a fobia e o pânico
Marta Rezende Cardoso
Violência e alteridade: o mal-estar na adolescência.
J.R.A. Correia, M. Allain, M.S.B. Amorim, A.M.B.C. Lima, E.F.F. Oliveira e T.C.N. Queiroz
A adoção psíquica e suas dificuldades
Daniel Delouya
A depressão na economia dos processos de diferenciação e integração psíquica
Analuiza Mendes Pinto Nogueira
Angústia e violência sua incidência na subjetivação
Gilda Paoliello
O problema do diagnóstico em psicopatologia
Paulo de Carvalho Ribeiro
Oposição e conflito na metapsicologia da angústia
Tânia Coelho dos Santos
A angústia e o sintoma na clínica psicanalítica
Observando a medicina
Mônica Teixeira e Erney Plessmann de Camargo
A indústria dos ensaios clínicos e sua repercussão sobre a prática médica contemporâneaClássicos da Psicopatologia
Mário Eduardo C. Pereira
Sobre os fundamentos da psicoterapia de base analítico-existencial, segundo Ludwig Binswanger
Ludwig Binswanger
Sobre a psicoterapiaEntrevistas
Mario Eduardo Costa Pereira
Apresentação
Entrevista com Pierre Fédida
Entrevista com Manoel Tosta BerlinckResenha de livros
Patrícia Lacerda Bellodi
Psicossomática: de Hipócrates à psicanáliseAutores deste número
Sumário dos números anteriores
Normas para publicaçãoEditorial
Com este número, a Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental inicia o seu quarto ano de publicação regular e ininterrupta, reunindo duas novas seções.
A primeira é Observando a medicina dirigida por Mônica Teixeira, com longa e vasta experiência no campo do jornalismo científico e tecnológico, e pelo Prof. Dr. Erney Plessmann de Camargo, Professor Titutar da Universidade de São Paulo. Esta sessão pretende apresentar e discutir os problemas envolvidos com a medicina, na atualidade.
O artigo inaugurando o novo espaço é uma versão modificada do publicado na Folha de S. Paulo de 18/2/2001 e discute a indústria dos ensaios clínicos e os problemas que vêm colocando. A medicina é, hoje, um dos campos científica e tecnologicamente mais complexos, onde ocorrem grandes mudanças afetando os profissionais, os doentes, as instituições e as políticas de saúde e precisa estar sendo constantemente observada e analisada, pois tais mudanças possuem amplas implicações econômicas, sociais, políticas, clínicas e éticas. Os recursos públicos e privados à disposição do sistema de saúde são enormes e crescentes e, se mal aplicados, podem ter amplas conseqüências nefastas. Só porque trata da vida e da morte dos humanos, o sistema de saúde tem sido amplamente privilegiado no Ocidente sem que tenha ocorrido, ao mesmo tempo, uma ampla e eficaz ouvidoria capaz de relatar e discutir problemas e desvios existentes. Tal importante tarefa tem recaído sobre os ombros dos agentes de saúde que têm se visto na contingência de realizar a crítica do próprio trabalho. Mas não podemos nos esquecer que médicos e instituições de saúde são objeto de intensa transferência por parte de seus usuários, que atribuem a eles um saber e um poder muito maiores do que efetivamente podem ter. Essa transferência sustenta o saber e o poder da medicina, mas, ao mesmo tempo, faz, muitas vezes, médicos e instituições de saúde esquecerem de sua ética, seus problemas e de suas limitações. Queremos dizer, com isso, que a saúde (e a doença) é uma das paixões do humano produzindo um intenso assujeitamento dos agentes que tratam, e dos tratados também, gerando uma grande ânsia de tratamento que freqüentemente leva a precipitações nefastas e ações antiéticas. Criando esta sessão, a Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental pretende dar a sua contribuição para a necessária ouvidoria do sistema de saúde reconhecendo a sua natureza pática.
A segunda seção, dirigida pelo Prof. Dr. Mario Eduardo Costa Pereira, contém entrevistas com especialistas em psicopatologia que discutem os problemas enfrentados por este campo do saber. A primeira série reúne duas entrevistas: uma com o Prof. Dr. Pierre Fédida, criador da psicopatologia fundamental e outra com o Prof. Dr. Manoel Tosta Berlinck, um dos responsáveis pela existência e ampliação da psicopatologia fundamental no Brasil. Essas entrevistas têm por finalidade estimular a reflexão a respeito da natureza, dos problemas e dos limites da psicopatologia.
Alguns artigos deste número os de Vera Lopes Besset, Analuiza Mendes Pinto Nogueira, Paulo de Carvalho Ribeiro e Tânia Coelho dos Santos resultam da reunião do Grupo de Trabalho sobre Psicopatologia e psicanálise da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia ANPEPP ocorrida em Serra Negra, em maio de 2000. Durante três dias, esse GT discutiu trabalhos de pesquisa sobre angústia e os artigos publicados agora refletem a riqueza do tema e da discussão. A Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental agradece o empenho da Profa Dra Vera Lopes Besset, coordenadora do GT, e a preferência dos membros do grupo para publicarem seus trabalhos aqui.
Os demais artigos, de psiquiatras e psicólogos, culminando com o de Ludwig Binswanger, Sobre psicoterapia , compõem um número que consideramos de excelente qualidade.
Como é possível observar, a formação acadêmica dos autores deste número é variada e diversa. Além disso, os autores continuam sendo de numerosos Estados brasileiros sustentando, assim, o caráter nacional deste periódico científico. Desta vez falta um artigo escrito por autor residente em outro país latino-americano. Mas a freqüência com que temos publicado (e continuaremos a publicar) trabalhos de colegas de outros países da América Latina atesta a natureza internacional de nossa revista. Com isso queremos reafirmar a idéia de que a psicopatologia fundamental não é uma disciplina da medicina ou da psicologia, mas trata-se de uma rede de discursos sobre o sofrimento, a paixão e a sensibilidade humana sen do pronunciado por incumbentes de diferentes posições no campo do saber. Em matéria de sofrimento e de sensibilidade humana, não há mestre. Somos todos assujeitados e, por isso, capazes de pronunciar discursos que sejam, ao mesmo tempo, constitutivos de experiência e portadores de poder de tratamento, ou seja, psicoterapêutico.
O método clínico, fundamentando esses discursos psicopatológicos e práticas psicoterapêuticas, baseia-se, por sua vez, no caso clínico, construção que contém, em germe, uma metapsicologia. A psicopatologia fundamental é, assim, uma rede discursiva contendo uma dimensão psicoterapêutica e, outra, metapsicológica precisando sempre ser clara e precisamente formulada pois, só assim, será possível a constituição da experiência a respeito do pathos
Neste sentido, o texto da Dra Gilda Paoliello, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, é de grande importância porque discute a questão do diagnóstico, ou seja, a identificação e nomeação do sofrimento, do pathos, contendo dimensão psicoterapêutica.
Talvez seja interessante observar, também, a proveniência teórica diversa dos trabalhos que compõem este número, simplesmente para dizer que a psicopatologia fundamental, sendo uma rede discursiva, acaba por ser constituída por uma grande mistura de abordagens teóricas contribuindo para uma melhor compreensão do sofrimento e da sensibilidade humana e de seu tratamento psicoterapêutico. De novo, em matéria de sofrimento e sensibilidade humana, não há teoria capaz de esgotar o assunto. A miscigenação é, pois, a característica dessa rede discursiva que vai sendo tecida no Brasil.
A Revista agradece, mais uma vez, a todos que colaboraram neste número.
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